Era na construção e recheio de um lugar sagrado, como o da imagem acima apresentado, que a associação empregaria grande parte dos 183 milhões de euros.
Saudações Vinícolas, AJAVinho
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Anónimo
disse...
O MAESTRO DO DOURO
O enólogo João Nicolau de Almeida, da casa Ramos Pinto, um dos principais nomes do vinho do Porto, fala sobre os rumos da vitivinicultura portuguesa e mundial.
Administrador da Casa Adriano Ramos Pinto, em Vila Nova de Gaia, Portugal, o enólogo português João Nicolau de Almeida costuma brincar que nasceu dentro de uma pipa, "já que venho de uma família de vinhateiros". Uma família, ressalte-se, de grandes fazedores de vinho. O maior deles foi seu pai, Fernando Nicolau de Almeida, que criou em 1952 o mítico Barca Velha, primeiro grande tinto da região do Douro e, para muitos, até hoje o melhor vinho português. Não é exagero afirmar que os tintos e brancos do Douro se dividem em antes e depois do trabalho do filho. João Nicolau é enólogo escolado. Foi para a França e freqüentou os melhores cursos de enologia do mundo. Voltou apaixonado pela cultura francesa do vinho, mas ciente do trabalho que o aguardava na terra natal. Estudou as oitenta diferentes castas do Douro, para descobrir as que apresentavam melhor resultado na região e, principalmente, promoveu o entrosamento entre agricultores e vinhateiros. Os efeitos não demoraram a aparecer e o reconhecimento pode ser materializado em dois prêmios que recebeu. Em 1998, foi eleito Homem do Ano pela revista americana Wine & Spirits. O primeiro tinto de mesa de sua autoria, o Duas Quintas 1992, ganhou o prêmio de Melhor Vinho Ibérico no International Wine Challenge, em Londres, feito inédito na enologia portuguesa. .
Alguns críticos dizem que o Porto, por ser um vinho doce, é uma bebida do passado, que a tendência atual seriam os brancos e tintos secos. O que o senhor acha dessa afirmação? Totalmente equivocada. Concordo que há uma tendência para vinhos menos doces. Mas o vinho do Porto continuará sempre a ter seu lugar. O importante é que ele, hoje, mostra mais fruta. Tem de exibir um casamento perfeito, onde entra a estrutura do vinho, do tanino, da fruta e o açúcar, tudo bem equilibrado.
Para isso, é necessário fazer alguma mudança no método de elaboração? É necessário maturação maior da uva, para que depois também possa ocorrer uma fermentação mais longa. Uma extração forte do potencial da fruta. Isso vai esconder a parte, digamos, açucarada. Portanto, o cuidado é a partir da vinha. .
O Porto branco pode alcançar o status do tinto? Talvez não, porque o tinto é mais querido, é considerado superior. Mas não consigo aceitar que naquela região se elabore um branco sem ser de alta qualidade. É melhor não fazer. Temos que melhorar o branco. Além do seco, há também o doce, o Fine White, e um mais doce, o Lágrima. São perfeitos para acompanhar entradas. Claro que não estou a compará-lo com um Château D'Yquem, ou um grande Sauternes. Mas, se trabalharmos bem, o branco pode evoluir e ser bastante apreciado.
Por que só recentemente o Douro começou a fazer vinho de mesa? Acho que tive uma ação bastante importante nesse sentido. Primeiro foi meu pai com o Barca Velha, que desafiou a região com um tinto de mesa; depois, a Ferreira continuou a fazer alguns vinhos. Contribuí para isso atuando no estudo das variedades de uvas, que deu origem ao Duas Quintas, um sucesso muitíssimo grande. Com ele ganhamos o título de Melhor Vinho Ibérico na Inglaterra. Foi um fato inédito para os vinhos portugueses.
Qual o melhor vinho que o senhor já fez? Estou muito satisfeito com os brancos da safra de 2000. Acredito que chegamos a um padrão interessante. Gosto muito do Duas Quintas 1992, vinho que esteve fechado, e agora está abrindo, que mostra envolvência. Sou apaixonado pelo reserva 1997, que é finíssimo, muito elegante. Um dos trabalhos que tenho feito é lapidar um pouco a agressividade e a rusticidade do vinho. A gente encontra a pedra e tem que polir. Neste 1997 acho que consegui polir bem. É um vinho bastante interessante.
E Porto? São muitos, a gente tem feito tantos. Elaborei todas as categorias, mas acho que nossos Tawnies 10 e 20 anos são vinhos que sempre dão prazer fazer. Há a transição dos 10 anos, dos frutos vermelhos para os secos e justamente essa ligação tem que ser bem-feita, porque senão desequilibra o vinho. O 20 anos é mais um desafio da maturidade, do equilíbrio e da harmonia, é o clássico.
Quais os vinhos que fazem parte de sua adega particular? Vários Barca Velha, Quinta do Carmo e Quinta da Pedrinha, do Dão. Gosto muito dos Bordeaux, e muitíssimo dos Bourgogne. Alguns Côte-du-Rhône também acho fantásticos. Americanos também possuo, mas acho que no fundo a cultura traz complexidade a uma vinha. Os americanos fazem vinhos muito bons, mais adaptados ao gosto do consumidor. São mais de espetáculo do que de história. Hoje em dia há dois tipos de vinho: os de espetáculo, que são aqueles para se inscrever e ganhar concursos; e os vinhos para beber, que têm história.
O senhor gostaria de trabalhar em alguma região fora do Douro? Não. Eu fui apanhado pelo Douro. Talvez seja limitada a minha ambição, mas é uma região tão rica, que não tem hipótese. Já tive convites de outras, mas o Douro é minha terra.
O que se pode esperar das safras de 1998, 1999, 2000 e 2001? A de 1998 não foi muito boa, mas tem vinhos de qualidade. Já 1999 foi um ano de mais abundância e, portanto, de vinhos mais abertos, não tão concentrados, mas também não foi excepcional. A safra de 2000, sim, foi excelente, de muita qualidade, apesar da produção pequena. A de 2001 apresentou produção bastante superior. No geral, não revela a mesma qualidade de 2000, mas resultou em vinhos também muito bons.
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O MAESTRO DO DOURO
O enólogo João Nicolau de Almeida, da casa Ramos Pinto, um dos principais nomes do vinho do Porto, fala sobre os rumos da vitivinicultura portuguesa e mundial.
Administrador da Casa Adriano Ramos Pinto, em Vila Nova de Gaia, Portugal, o enólogo português João Nicolau de Almeida costuma brincar que nasceu dentro de uma pipa, "já que venho de uma família de vinhateiros". Uma família, ressalte-se, de grandes fazedores de vinho. O maior deles foi seu pai, Fernando Nicolau de Almeida, que criou em 1952 o mítico Barca Velha, primeiro grande tinto da região do Douro e, para muitos, até hoje o melhor vinho português. Não é exagero afirmar que os tintos e brancos do Douro se dividem em antes e depois do trabalho do filho. João Nicolau é enólogo escolado. Foi para a França e freqüentou os melhores cursos de enologia do mundo. Voltou apaixonado pela cultura francesa do vinho, mas ciente do trabalho que o aguardava na terra natal. Estudou as oitenta diferentes castas do Douro, para descobrir as que apresentavam melhor resultado na região e, principalmente, promoveu o entrosamento entre agricultores e vinhateiros. Os efeitos não demoraram a aparecer e o reconhecimento pode ser materializado em dois prêmios que recebeu. Em 1998, foi eleito Homem do Ano pela revista americana Wine & Spirits. O primeiro tinto de mesa de sua autoria, o Duas Quintas 1992, ganhou o prêmio de Melhor Vinho Ibérico no International Wine Challenge, em Londres, feito inédito na enologia portuguesa. .
Alguns críticos dizem que o Porto, por ser um vinho doce, é uma bebida do passado, que a tendência atual seriam os brancos e tintos secos. O que o senhor acha dessa afirmação? Totalmente equivocada. Concordo que há uma tendência para vinhos menos doces. Mas o vinho do Porto continuará sempre a ter seu lugar. O importante é que ele, hoje, mostra mais fruta. Tem de exibir um casamento perfeito, onde entra a estrutura do vinho, do tanino, da fruta e o açúcar, tudo bem equilibrado.
Para isso, é necessário fazer alguma mudança no método de elaboração?
É necessário maturação maior da uva, para que depois também possa ocorrer uma fermentação mais longa. Uma extração forte do potencial da fruta. Isso vai esconder a parte, digamos, açucarada. Portanto, o cuidado é a partir da vinha. .
O Porto branco pode alcançar o status do tinto?
Talvez não, porque o tinto é mais querido, é considerado superior. Mas não consigo aceitar que naquela região se elabore um branco sem ser de alta qualidade. É melhor não fazer. Temos que melhorar o branco. Além do seco, há também o doce, o Fine White, e um mais doce, o Lágrima. São perfeitos para acompanhar entradas. Claro que não estou a compará-lo com um Château D'Yquem, ou um grande Sauternes. Mas, se trabalharmos bem, o branco pode evoluir e ser bastante apreciado.
Por que só recentemente o Douro começou a fazer vinho de mesa?
Acho que tive uma ação bastante importante nesse sentido. Primeiro foi meu pai com o Barca Velha, que desafiou a região com um tinto de mesa; depois, a Ferreira continuou a fazer alguns vinhos. Contribuí para isso atuando no estudo das variedades de uvas, que deu origem ao Duas Quintas, um sucesso muitíssimo grande. Com ele ganhamos o título de Melhor Vinho Ibérico na Inglaterra. Foi um fato inédito para os vinhos portugueses.
Qual o melhor vinho que o senhor já fez?
Estou muito satisfeito com os brancos da safra de 2000. Acredito que chegamos a um padrão interessante. Gosto muito do Duas Quintas 1992, vinho que esteve fechado, e agora está abrindo, que mostra envolvência. Sou apaixonado pelo reserva 1997, que é finíssimo, muito elegante. Um dos trabalhos que tenho feito é lapidar um pouco a agressividade e a rusticidade do vinho. A gente encontra a pedra e tem que polir. Neste 1997 acho que consegui polir bem. É um vinho bastante interessante.
E Porto?
São muitos, a gente tem feito tantos. Elaborei todas as categorias, mas acho que nossos Tawnies 10 e 20 anos são vinhos que sempre dão prazer fazer. Há a transição dos 10 anos, dos frutos vermelhos para os secos e justamente essa ligação tem que ser bem-feita, porque senão desequilibra o vinho. O 20 anos é mais um desafio da maturidade, do equilíbrio e da harmonia, é o clássico.
Quais os vinhos que fazem parte de sua adega particular?
Vários Barca Velha, Quinta do Carmo e Quinta da Pedrinha, do Dão. Gosto muito dos Bordeaux, e muitíssimo dos Bourgogne. Alguns Côte-du-Rhône também acho fantásticos. Americanos também possuo, mas acho que no fundo a cultura traz complexidade a uma vinha. Os americanos fazem vinhos muito bons, mais adaptados ao gosto do consumidor. São mais de espetáculo do que de história. Hoje em dia há dois tipos de vinho: os de espetáculo, que são aqueles para se inscrever e ganhar concursos; e os vinhos para beber, que têm história.
O senhor gostaria de trabalhar em alguma região fora do Douro?
Não. Eu fui apanhado pelo Douro. Talvez seja limitada a minha ambição, mas é uma região tão rica, que não tem hipótese. Já tive convites de outras, mas o Douro é minha terra.
O que se pode esperar das safras de 1998, 1999, 2000 e 2001?
A de 1998 não foi muito boa, mas tem vinhos de qualidade. Já 1999 foi um ano de mais abundância e, portanto, de vinhos mais abertos, não tão concentrados, mas também não foi excepcional. A safra de 2000, sim, foi excelente, de muita qualidade, apesar da produção pequena. A de 2001 apresentou produção bastante superior. No geral, não revela a mesma qualidade de 2000, mas resultou em vinhos também muito bons.
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